segunda-feira, 1 de março de 2010

Olhares e pensamentos de um ex-motoboy,

Desde garoto, me relacionar bem e conversar foi o meu forte. Não importa o local, motivo ou circunstância. Isto me agrada muito, pois me dá a oportunidade de aprender um pouco de tudo. Depois da morte da minha mãe, da gravidez da minha namorada e dos dias na rua e no albergue, como mencionei no texto anterior, virei motoboy.

Eram quase dezessete horas de trabalho. Sol, chuva e outros imprevistos corriqueiros no dia-dia. Bem, se eu disser que não gostava do trabalho, estou mentindo. Gostava. Só que depois de três anos e nove mês eu já não aguentava mais. Pela manhã, acordava bem cedo - isso quando dormia. Lavava o rosto, mochila nas costas, e lá vou eu rumo ao bairro da Lapa, para depois percorrer até 280 quilômetros por dia nas ruas de Sampa. E à noite, pizzaria, é claro. Nunca fui muito religioso, mas sempre rezei desde pequenininho. Então, durante o meu percurso no corredor da Marginal Pinheiros, eu sempre rezava. Alguns o chamam de Deus, outros de Oxalá, Buda, e por aí vai. O importante é crer, ter fé.

Bem, já estava mandando currículo a longa data e nada. Então, quando rezava, eu dizia: Deus, me manda uma luz, este trabalho é bom, mas é perigoso, não quero morrer cedo. A minha prece era a mesma todos os dias. Acho que rezei tanto que ele me ouviu.

Logo após enviar uma carta para a Folha de S. Paulo, sobre o assalto e roubo do Rolex do apresentador Luciano Huck, no final da tarde, percorrendo a cidade, o celular tocou. Encostei no canteiro da Marginal Pinheiros e do outro lado da linha uma doce voz fala: "Boa tarde, Fábio, meu nome é Bia Murano. Sou assessora do secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo. Tudo bem?"

Respondi, meio surpreso, que tudo. Ela fala: "Fábio, o secretário leu a carta que você enviou à Folha e gostou muito, gostaria de falar com você. Quando podemos marcar?" Sem pensar duas vezes, respondi que claro, podia. Marcamos. Ao desligar o telefone, pensei: "Nossa, o que será ele quer? Será que escrevi algo que possa ter ofendido alguém.?" Os sentimentos foram de preocupação e ansiedade.

Marcado o dia, lá fui eu, me questionando aos montes. Ao entrar no prédio da Prefeitura, meu coração se acelerou. Uma bela construção, linda arquitetura, teto alto, muito alto. Fiquei me sentindo pequeno. Ao passar pela recepção, entrei no elevador rumo ao escritório de uma das figuras mais importantes da nossa São Paulo: Ângelo Andrea Matarazzo. Eu nem acreditava.

Aguardei uns minutos. Foi quando a secretaria disse: "O senhor pode entrar". Ao entrar, lá estava o secretário com um belo sorriso no rosto. Me estendeu a mão e disse: "Boa tarde, Fábio. Sente-se, por favor. Então foi você quem escreveu a carta?" Respondi que sim. O secretario elogiou a escrita, o ponto-de-vista e tudo mais. Fiquei lisonjeado. Num determinado ponto da conversa, acredito eu ponto este que mais o chamou a atenção, ele perguntou: "Se entrasse na faculdade, o que gostaria de estudar?" Eu respondi que Psicologia, ou algo que envolvesse as pessoas, pois gosto de me relacionar. Foi então que veio o convite para trabalhar. Quase cai de costas, fiquei muito surpreso.

Hoje posso afirmar porque o próprio Andrea Matarazzo fala que este foi um dos fatos que mais chamou a sua atenção. Eu confesso, fiquei muito impressionado por ter sido entrevistado pelo próprio e posso dizer que o que mais chamou a atenção nele foi sua simplicidade e jeito de tratar comigo. Terminada a conversa, fui encaminhado para a assessoria e conversei com Luis Sobral, um homem sério e objetivo. Impressionante e admirável a sua postura. Junto com ele estava o sr Osterno, também muito objetivo e observador. Perguntou sobre minha família, trabalhos etc. Terminada esta parte, perguntaram: "E aí, vai encarar o desafio?" Eu respondi que sim. "Então acerta tudo e traz a documentação". Foi desta maneira e com as orientações iniciais do sr Osterno que iniciei meus trabalhos na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, na assessoria do secretário Andréa Matarazzo.

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